Em 1928, a Ford iniciou um incêndio de grandes dimensões para abrir terreno para uma plantação de seringueiras no Pará. Foi o prenúncio de uma época de exploração brutal da região - mas também o início de um sonho; nascia ali a Fordlândia, uma cidade americana, com automóveis, geladeiras e um campo de golfe, em meio à selvagem floresta amazônica. Esta é a história desse sonho e do homem que ousou torná-lo realidade.
Em 1927, o governo do Pará cedeu a Henry Ford um milhão de hectares para o plantio de seringueiras. A Ford Motor Company precisava da borracha para fazer seus pneus, e os altos custos da importação de látex da Ásia pareciam uma boa razão para tal investimento em plena floresta amazônica. O que Greg Grandin nos mostra em Fordlândia, no entanto, é que a idéia se revelou bem mais do que um projeto econômico: era, sim, a utopia de levar o sonho americano a um lugar onde pudesse ser recomeçado, e onde as falhas e os vícios que o excêntrico Ford enxergava no modelo original - as guerras, o álcool, o leite de vaca - pudessem ser corrigidos.
O sonho, primeiro instalado na vila que recebeu o nome de Fordlândia e depois transferido para cerca de 100 quilômetros dali, em Belterra, não incluía apenas trabalhadores e árvores: era feito de famílias, escolas, clubes e uma espécie de código moral que seus administradores se esforçavam em fazer cumprir.
Embora hoje pareçam figurar no reino dos mitos, as duas cidades - com suas ruas pavimentadas e iluminadas, hidrantes vermelhos, casas de madeira com eletricidade e água encanada, e até hospitais modernos, piscinas e cinemas - realmente existiram, por quase duas décadas, e qualquer viajante ainda pode conferir as ruínas da Fordlândia original. Desde que esteja disposto a encarar uma travessia de 18 horas pelo rio Tapajós - viagem, aliás, que o próprio Ford nunca chegou a realizar.
Fordlândia é, assim, não só a história da luta entre a arrogância do mundo moderno e a exuberância amazônica, mas também a biografia de um homem que revolucionou a indústria apenas para perceber que seu objetivo estava muito além. Numa época de grandes transformações políticas, Ford ofereceu seu modelo de redenção capitalista, como define Grandin: produzir não apenas carros baratos, mas também um novo mundo. A pequena cidade na Amazônia parecia um bom começo.
Author(s): Greg Grandin
Publisher: ROCCO
Year: 2009
Language: Portuguese
Pages: 0