O totalitarismo entre história e teoria

Nascido na Itália no começo dos anos 1920, o conceito de totalitarismo experimentou uma série de transformações ao longo do século XX, até seu mais recente uso depois do 11 de Setembro de 2001 (quando foi mobilizado contra o terrorismo islâmico). É um conceito impressionantemente plástico, resiliente e ambíguo, pois combina aspirações políticas e acadêmicas. Nascido na luta política, foi deslocado com sucesso para a ciência política, onde a maioria dos seus intérpretes (apesar das discordâncias entre si) o definiram como uma nova forma de poder que excede as categorias clássicas da teoria política. A passagem desse conceito para o campo dos estudos históricos, no entanto, foi mais controversa. Útil para definir a natureza e as formas dos regimes políticos, bem como para estabelecer sua tipologia, “totalitarismo” se tornou um conceito problemático e limitado no que tange as análises sobre as origens, os desdobramentos e os desfechos finais de certas experiências históricas. Por um lado, ele favorece uma comparação seletiva entre diferentes regimes políticos; por outro, ele simplesmente os sobrepõe enfatizando algumas analogias, porém negligenciando outras dimensões fundamentais da pesquisa histórica. Esse ensaio é um apelo para o uso crítico dessa categoria, o que implica na rejeição dos seus recorrentes usos ideológicos e afirma sua integração aos avanços da história social e cultural.