Introdução a uma Estética Marxista - Sobre a Categoria da Particularidade

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"Tem sido frequente, tanto em discípulos como em adversários, reduzir a estética marxista a uma simples análise sociológica ou historicista das obras de arte, a uma mera explicação (obtida com os métodos do materialismo histórico) da gênese dos fenômenos artísticos. Acredita-se que esta explicação sociológica, através da qual se estabelece que tal ou qual artista expressa uma visão do mundo 'burguesa' ou 'proletária', constitui o objetivo único da crítica marxista. Abandona-se, assim, mais ou menos inteiramente, a compreensão inter na da estrutura da obra, a determinação das leis sistemáticas que operam no reflexo artístico da realidade. Ora, somente uma tal compreensão permite ao crítico distinguir (para usarmos a expressão de Gramsci) entre uma produção realmente artística e o fruto da atividade de um borra-botas. Esta determinação da estrutura do estético é a tarefa de uma análise fundada nos métodos do materialismo dialético. Tão-somente de uma orgânica integração entre o materialismo histórico e o materialismo dialético pode resultar uma consideração histórico-sistemática (integral) da arte, ou seja, um desenvolvimento superior – porque materialista - da metodologia que Hegel inaugurou e desenvolveu em sua Estética. No interior do pensamento que se reclama de Marx, esta parece ser a característica diferenciadora fundamental de Lukács: ele foi o único, após Lenin, a compreender a fecundidade desta integração e a fazer dela a pedra angular de seu pensamento filosófico, estético e crítico. A utilização do materialismo dialético implica, naturalmente, na aceitação da teoria dialética do reflexo. Esta aceitação marca a passagem definitiva de Lukács para o período de sua maturidade, período no qual - superando a colocação ainda idealista de História e Consciência de Classe – ele elaborou a profunda e duradoura obra que o coloca entre os 'clássicos' do marxismo. A estética lukácsiana funda-se precisamente sobre a concepção da arte como modo peculiar do reflexo da realidade objetiva. Mediante a utilização dos princípios do materialismo dialético, Lukács estabelece as características específicas do reflexo estético, pelas quais este se distingue estruturalmente do científico (no interior da unidade fornecida pela comum realidade refletida) e funda sua autonomia e seu específico sistema de leis. A principal destas características, segundo Lukács, reside no lugar central que ocupa na esfera estética a categoria da particularidade (da tipicidade). À análise desta categoria, de sua elaboração histórico-filosófica e de seu papel no reflexo artístico, esta presente na Introdução a uma Estética Marxista, que constitui um prólogo indispensável à completa compreensão de sua monumental Estética, cuja primeira parte (dedicada precisamente à análise da peculiaridade do estético) foi publicada em 1963 e é hoje, em edição espanhola, acessível ao leitor brasileiro. O lançamento de mais uma obra de Lukács em nossa língua apresenta uma especial importância: o conhecimento profundo e sistemático de seu pensamento, sua assimilação criadora à cultura brasileira, o que pode contribuir decisivamente para a erradicação das tendências irracionalistas e vanguardistas de alguns intelectuais 'de esquerda', bem como para a definitiva superação de um velho dogmatismo que obstaculiza o florescimento do autêntico humanismo marxista. CARLOS NELSON COUTINHO" — http://www.institutolukacs.com.br/single-post/2018/11/01/Introdu%C3%A7%C3%A3o-a-uma-Est%C3%A9tica-Marxista

Author(s): Georg Lukács
Edition: 2
Publisher: Civilização Brasileira
Year: 1978

Language: Portuguese
Pages: 298
City: Rio de Janeiro