Uma história de desastres – das guerras às pandemias – e o nosso fracasso em aprender como lidar com eles.
Desastres são inerentemente difíceis de prever. Mas, quando eles acontecem, deveríamos estar mais bem preparados para enfrentá-los do que os romanos quando o Vesúvio estourou; ou os italianos quando a peste negra aconteceu; ou ainda os russos quando Chernobyl explodiu. Afinal, temos a ciência e a experiência do nosso lado. No entanto, as respostas de muitos países desenvolvidos, inclusive o Brasil, à pandemia do coronavírus apontam para o contrário.
Um dos mais renomados historiadores contemporâneos, Niall Ferguson aproveitou o surgimento da pandemia para analisar por que o mundo ainda não sabe enfrentar desastres. O progresso da ciência e da tecnologia leva ao otimismo, como o próprio desenvolvimento em tempo recorde das vacinas provou. A partir de análises do ponto de vista científico, econômico e geopolítico, o autor traça uma espécie de “teoria geral de desastres”. E mostra como os políticos e a própria sociedade pode e deve responder melhor.
Author(s): Niall Ferguson
Edition: 1ª
Publisher: Planeta
Year: 2021
Language: Portuguese
Commentary: Título original: Doom: The Politics of Catastrophe
Pages: 1282
City: São Paulo/SP
Tags: 1. Desastres – História 2. COVID-19 (Doença) 3. Desastres - Aspectos políticos
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
INTRODUÇÃO
Esta não é uma história de nossa perplexa praga pós-moderna, nem uma história geral sobre pandemias. Esta é uma história geral de catástrofes – de todos os tipos de desastres, do geológico ao geopolítico, do biológico ao tecnológico. Pois de que outra forma devemos ver nosso desastre – ou qualquer outro – de uma perspectiva adequada?
CAPÍTULO 1
O SIGNIFICADO DA MORTE
Embora na era moderna a expectativa de vida tenha melhorado bastante, a morte continua inevitável e é, em termos absolutos, mais comum do que nunca. No entanto, nos tornamos alienados da morte. Em última análise, não apenas nós, como indivíduos, estamos condenados, mas também a própria raça humana. Todas as religiões do mundo e várias ideologias seculares têm procurado fazer essa escatologia parecer mais iminente (e imanente) do que realmente é. O que de fato devemos temer é um grande desastre, não o dia do juízo final. Dos grandes desastres da história da humanidade, os maiores foram pandemias e guerras.
CAPÍTULO 2
CICLOS E TRAGÉDIAS
A catástrofe é, de maneira inata, imprevisível porque a maioria dos desastres (de terremotos a guerras) não é normal e, portanto, previsivelmente distribuída. As teorias cíclicas da história não podem contorná-los. Os desastres são mais como tragédias: aqueles que tentam prevê-los dificilmente serão ouvidos. Além de prever mais desastres do que realmente acontecem, as Cassandras enfrentam uma série desconcertante de vieses cognitivos. No final, diante da incerteza, a maioria das pessoas simplesmente decide ignorar a possibilidade de que, como indivíduos, serão vítimas de uma catástrofe. “Os sinos do inferno fazem tililim para você, não para mim”, uma canção cantada por soldados britânicos na Primeira Guerra Mundial é a melodia característica da humanidade.
CAPÍTULO 3
RINOCERONTES CINZA, CISNES NEGROS E DRAGÕES-REIS
Os desastres são frequentemente previstos (rinocerontes cinza), mas mesmo alguns desastres previstos podem parecer completamente inesperados quando ocorrem (cisnes negros). Alguns têm consequências além da mortalidade excessiva que os diferenciam (dragões-reis). Os desastres não são “naturais” ou “provocados pelo homem”. A decisão de localizar assentamentos perto de zonas de desastre em potencial – perto de um vulcão, em uma falha geológica, próximo a um rio sujeito a fortes inundações – é o que torna a maioria dos desastres naturais, em alguns aspectos, causada pelo homem. Considerando a perda de vidas, mais desastres graves acontecem na Ásia do que em outros lugares. O grande desastre norte-americano não foi, para os padrões asiáticos, tão desastroso.
CAPÍTULO 4
O MUNDO EM REDE
O determinante decisivo da escala de um desastre é se há ou não contágio. A estrutura da rede social é, portanto, tão importante quanto as propriedades inatas de um patógeno ou qualquer outra coisa (como uma ideia) que possa ser disseminada por vírus. As pessoas descobriram a eficácia das quarentenas, do distanciamento social e de outras medidas agora chamadas de “intervenções não farmacêuticas” muito antes de compreenderem a verdadeira natureza das doenças que procuravam combater – da varíola à peste bubônica. A essência de tais medidas é modificar as estruturas da rede para torná-las menores em um mundo já pequeno. Essas modificações podem ser adaptações espontâneas, mas geralmente precisam ser ordenadas hierarquicamente.
CAPÍTULO 5
A ILUSÃO DA CIÊNCIA
O século XIX foi uma época de grandes avanços, principalmente na bacteriologia. Mas não devemos sucumbir a uma interpretação Whig da história médica. O império forçou o ritmo das pesquisas em doenças infecciosas, mas também forçou o ritmo da globalização da economia mundial, criando oportunidades para doenças, nem todas submetidas a vacinação ou terapia. A gripe de 1918 foi uma revelação sombria dos limites da ciência. Avanços em nossa compreensão dos riscos podem ser compensados pela maior integração e fragilidade da rede.
CAPÍTULO 6
A PSICOLOGIA DA INCOMPETÊNCIA POLÍTICA
Temos tendência a atribuir grande parte da responsabilidade por desastres políticos, bem como militares, a líderes incompetentes. O argumento defendido pelo economista indiano Amartya Sen é de que a fome era causada por governos irresponsáveis e falhas de mercado evitáveis, não pela escassez de alimentos em si, e que a democracia era o melhor remédio para a fome. Essa teoria pode muito bem explicar algumas das piores fomes no século e meio entre os anos 1840 e 1990. Mas por que a lei de Amartya Sen deveria se aplicar apenas à fome? Por que não aos desastres que os homens mais provocaram, como as guerras? É um paradoxo que a transição de impérios para Estados-nações mais ou menos democráticos tenha sido acompanhada de tanta morte e destruição.
CAPÍTULO 7
DA GRIPE BOOGIE WOOGIE AO EBOLA NA CIDADE
Em 1957, a resposta racional a uma nova cepa mortal de gripe parecia ser uma combinação de imunidade coletiva e vacinação seletiva. Não houve distanciamento social nem fechamentos de escolas, apesar do fato de a gripe asiática em 1957 ter sido tão perigosa quanto a Covid-19 em 2020. O sucesso da resposta de Eisenhower refletiu não apenas a agilidade do governo federal norte-americano daquela época, mas também o contexto da Guerra Fria de uma cooperação internacional muito melhorada em questões de saúde pública. No entanto, os sucessos das décadas de 1950, 1960 e 1970 foram enganosos. O HIV/aids revelou as fraquezas das agências nacionais e internacionais. Assim, de maneiras diferentes, surgiram o Sars, o Mers e o ebola.
CAPÍTULO 8
A GEOMETRIA FRACTAL DO DESASTRE
Acidentes vão acontecer, do Titanic ao desafiador Chernobyl. Os pequenos desastres são como microcosmos dos grandes, mas, por serem menos complexos, podemos entendê-los mais facilmente. A característica comum de todos os desastres, sejam navios afundando ou explosões de reatores nucleares, é a combinação de falha do operador e administrativa. Muitas vezes, o ponto de falha em um desastre não está no topo (a “ponta cega”) ou no ponto de contato (a “ponta afiada”), mas dentro da gerência intermediária – um tema favorito do físico Richard Feynman e um insight com aplicabilidade geral.
CAPÍTULO 9
AS PRAGAS
Como tantas pandemias anteriores, a Covid-19 é originária da China. No entanto, o impacto variado da doença nos demais países do mundo confundiu as expectativas. Longe de estarem bem-preparados para uma pandemia, os Estados Unidos e o Reino Unido se deram mal. Foram países como Taiwan e Coreia do Sul que aprenderam as lições certas com o Sars e o Mers. Era tentador culpar as angústias anglo-americanas pela incompetência dos líderes populistas. No entanto, algo mais profundo deu errado. A burocracia da saúde pública em cada caso falhou. E o papel das plataformas de internet na divulgação de notícias falsas sobre a Covid-19 levou a adaptações inadequadas e, às vezes, francamente prejudiciais ao comportamento público.
CAPÍTULO 10
AS CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS DA PRAGA
A mudança da complacência para o pânico em meados de março de 2020 levou a lockdowns economicamente esmagadores em muitos países. Foram as soluções certas para o problema causado pela Covid-19? Provavelmente, a resposta é não, e tentar um retorno à normalidade naquele verão não foi uma atitude inteligente dos Estados Unidos (a estúpida reabertura) sem testes e rastreamentos adequados. O resultado previsível foi uma segunda onda menor e uma recuperação “em ritmo de tartaruga”. Menos previsível foi a erupção política quase revolucionária sobre a questão do racismo, que tinha semelhanças impressionantes com os movimentos de massa precipitados por pandemias anteriores.
CAPÍTULO 11
O PROBLEMA DOS TRÊS CORPOS
A crise da Covid-19 é amplamente considerada como uma condenação do declínio dos Estados Unidos em relação à China. Isso provavelmente está errado. Os impérios de nosso tempo – Estados Unidos, China e União Europeia – bagunçaram a pandemia de maneiras diferentes. Mas é difícil ver por que os países que lidaram bem com isso estariam ansiosos para se juntar ao panóptico imperial de Xi Jinping. Em vários aspectos, a crise mostrou a persistência do poder americano: em termos financeiros, na corrida por uma vacina e na competição tecnológica. Os rumores da catástrofe norte-americana mais uma vez são exagerados. Talvez, por causa desse exagero, o risco de uma guerra não apenas fria, mas quente, esteja aumentando.
CONCLUSÃO
CHOQUES FUTUROS
Não temos como saber qual será o próximo desastre. Nosso objetivo modesto deve ser tornar nossas sociedades e nossos sistemas políticos mais resilientes – e idealmente antifrágeis – do que são atualmente. Isso requer uma compreensão melhor da estrutura da rede e da disfunção burocrática do que a que possuímos atualmente. Aqueles que consentiriam com um novo totalitarismo de vigilância onipresente em nome da segurança pública não perceberam que alguns dos piores desastres descritos neste livro foram causados por regimes totalitários.
POSFÁCIO
AGRADECIMENTOS
NOTAS