Por que demos a este ciclo de debates o título "Por um feminismo para os 99%"? Inspirados no livro de Cinzia Arruzza, Tithi bhattacharya e Nancy Fraser, publicado pela Boitempo em 2019, escolhemos chamar atenção para as mulheres da classe trabalhadora: "Racializadas, migrantes ou brancas; cis, trans ou não alinhadas à conformidade de gênero; que exercem o trabalho doméstico ou são trabalhadoras sexuais; remuneradas por hora, semana, mês ou nunca remuneradas; desempregadas ou subempregadas; jovens ou idosas"1. Nosso objetivo é, enfim, discutir as premissas de um feminismo incondicional- mente internacionalista e anticapitalista, que cerre fileiras com os movimentos antirracistas, ambientalistas e pelos direitos de trabalhadores e de imigrantes. Os movimentos por emancipação liderados por mulheres tiveram origem muito antes do que hoje se convencionou chamar de "feminismo". Há séculos, as mulheres lutam contra o patriarcalismo, sistema de opressão que se manifesta no tecido social de diferentes culturas. A diversidade do feminismo atual se explica pela existência de formas bastante variadas de pensar a luta das mulheres: indígenas e empresariais; liberais e socialistas; individualistas e coletivas. Isso se deve à maior ou menor articulação da análise do patriarcado a outros aspectos da formação das sociedades capitalistas modernas. A superação da opressão das mulheres, especialmente na família e no trabalho, continua sendo ponto de atenção para a tão sonhada sociedade igualitária. As feministas liberais defendem a individualidade e o empreendedorismo e preconizam o "empoderamento" como saída para a desigualdade de gênero; as feministas radicais apostam na coletividade, porém enxergam no patriarcado a raiz de todas as opressões; e as feministas marxistas reivindicam a centralidade do trabalho e da classe na identificação da opressão e da exploração sofridas pelas mulheres no sistema capitalista. Tentaremos, nesta pequena coletânea de textos, dar indícios de cada uma dessas vertentes, de modo a estimular leitores e leitoras a tomar parte nessa necessária renovação do pensamento radical feita pelo "marxismo feminista". Para tanto, reunimos aqui excertos de livros e de textos da revista Margem Esquerda, publicados pela Boitempo, com os quais esperamos refletir coletivamente sobre o passado, o presente e, sobretudo, a construção de um futuro mais justo e digno. Boa leitura!
Author(s): Aleksandra Kollontai; Amanda Palha; Ana Flauzina; Angela Davis; Flávia Biroli; Judith Butler; Nancy Fraser; Patricia Hill Collins; Rahel Jaeggi; Sirma Bilge; Silvia Federici; Sueli Carneiro; Talíria Petrone; Tithi Bhattacharya
Edition: 1ª
Publisher: Boitempo Editorial
Year: 2021
Language: Portuguese
Pages: 193
City: São Paulo/SP
Tags: 1. Feminismo. 2. Mulheres - Condições sociais. 3. Negras - Condições sociais.
SUMÁRIO
Apresentação
Programação
PARTE I
A urgência do feminismo para os 99%
Talíria Petrone
O movimento das mulheres negras no Brasil
Patricia Hill Collins e Sirma Bilge
A história oculta da fofoca
Silvia Federici
Teoria da reprodução social: por que precisamos dela para entender a crise da covid-19
Tithi Bhattacharya
Transfeminismo e construção revolucionária
Amanda Palha
Divisão sexual do trabalho, gênero e democracia
Flávia Biroli
PARTE II
Minha filiação ao Partido Comunista
Angela Davis
O que Outubro deu à mulher ocidental
Aleksandra Kollontai
A potência da escrita de Michelle Alexander
Ana Luiza Pinheiro Flauzina
Intersecções: perspectivas para um capitalismo pós-racista e pós-sexista
Nancy Fraser e Rahel Jaeggi
Feminismo, teoria crítica e pós-estruturalismo: entrevista à revista da Boitempo
Judith Butler
Trajetória intelectual e formação política: entrevista à revista da Boitempo
Sueli Carneiro