Vivemos um imperativo da vitória a qualquer preço sobre os outros. Os outros viraram adversários, competidores... inimigos! Cada um tem que se safar, se dar bem, e não importa mais ninguém.
O que mais me choca é como muitos consideram natural esse tipo de política e ambicionam crescer cada vez mais dentro dos ideais prontos e disponíveis de sucesso.
É raro perceber estímulos à mobilização coletiva, a formas de administrar a vida e as organizações que estimulem valores como a cooperação, a solidariedade e o igualitarismo.
Não podemos nos furtar a questionar e mesmo a desconstruir aquilo que parece representar, no discurso de muitos, a natureza das pessoas e das coisas, inclusive para mostrar que os modos de existência não são únicos, naturais e nem inevitáveis.
Até 2004, eu nunca havia ouvido falar em Economia Solidária, associativismo ou mesmo autogestão. Mas há iniciativas nas quais o lucro parece não estar acima de tudo. É preciso buscá-las, ouvi-las. É preciso vivê-las.
Este não é um produto fechado e encerrado, mas uma narrativa ligada a processos, vivências, experimentações. Busco compartilhar não apenas o resultado de uma pesquisa, mas caminhos e descaminhos construídos coletivamente, por mim e todos aqueles com os quais encontrei ao longo dos últimos anos. Esforço-me para que seja um trabalho com e não sobre pessoas e organizações.
Vários motivos me levam a realizar este trabalho. É importante ressaltar meu interesse pelos modos como as pessoas constroem suas existências e que tipos de sociedades esses modos implicam.
Morei em Lisboa e nos Açores. Caminhei por ruas e avenidas, conversei com professores universitários, funcionários públicos de diversos escalões e com trabalhadores de diferentes organizações não governamentais (ONGs), bem como com ‘anônimos’. Conheci e dialoguei, também, com membros de várias organizações.
Foi fundamental conhecer pessoas que, juntas, lutam por outros modos de vida a partir de atitudes baseadas em valores e princípios mais amorosos e voltados à vida do que aqueles hoje dominantes.
Como dito, mais que uma síntese em forma de produto, o valor desta obra reside no seu caráter processual. Convido leitores e leitoras para que percorram as diversas etapas deste trabalho, marcadas por transformações, descobertas, emoções, construções, desconstruções e aprendizados, inclusive do próprio autor.
Espero que este livro possa afetar de formas diversas, suscitando perguntas, dúvidas, questionamentos, inquietações, ações e mudanças, principalmente na direção de mundos mais justos, igualitários e solidários.
Author(s): Igor Vinicius Lima Valentim
Publisher: Compassos Coletivos
Year: 2013
Language: Portuguese
Pages: 185
City: Rio de Janeiro