Acreditando com ingenuidade romântica, a meu ver, no sucesso de um parlamento de agricultores, Antônio Feliciano de Castilho publicou entre 1848 e 1849 A felicidade pela agricultura, obra cujo título já deixa transparecer bem o seu caráter utópico. “Só quando deixarmos de ser políticos, principiaremos a ser bons”, era a súmula do seu pensamento. Referia-se ele, naturalmente com desgosto, aos políticos que são profissionalmente políticos, essencialmente políticos, isto é, que colocam o interesse pela conquista dos cargos acima de qualquer outra aspiração. O conhecimento direto da vida rural, a experiência vivida das vicissitudes do trabalho no campo, garantiriam a sensatez e honestidade dos legisladores e governantes... Que ilusionismo o do poeta cego! O que primeiro me ocorreu ao ler, ainda nos originais Minerações (Ensaios de crítica e
vida literária) de Joaquim-Francisco Coelho, paraense que há anos leciona em universidades norte-americanas — no momento, é professor de Literatura Brasileira em Stanford — e, nos Estados Unidos, doutorou-se com uma tese sobre Carlos Drummond de Andrade, foi que esse trabalho, em virtude da satisfação que transpira por todos os poros, consubstancia o que poderíamos denominar de “a felicidade pela literatura”. O livro exsuda todo ele um júbilo sadio e fraterno, que nos sensibiliza e contagia. Uma obra assim possui, entre outras finalidades, a de arejar o ambiente literário, de repousar, tonificar e estimular os trabalhadores intelectuais, valendo, desta maneira, por eficaz antídoto contra a poluição literária, ou seja, o que o egocentrismo, a inveja e o ressentimento geram de negativo, de doentio no mundo das Belas-Letras.
Author(s): Cassiano Nunes
Series: Coleção Vera Cruz
Publisher: Civilização Brasileira; INL
Year: 1983
Language: Portuguese
City: Rio de Janeiro; Brasília
Tags: Literature; Brazil