Por que o Brasil ainda não deu certo?
Darcy Ribeiro, ao chegar no exílio, no Uruguai, em abril de 1964, queria é responder a essa pergunta na forma de um livro-painel sobre a formação do povo brasileiro e sobre as configurações que ele foi tomando ao longo dos séculos. Viu logo, porém, que essa era uma tarefa impossível, pois só havia o testemunho dos conquistadores. E sobretudo porque nos faltava uma teoria crítica que tornasse explicável o mundo ibérico de que saímos, mesclados com índios e negros.
Afundou-se, desde então, na tarefa de produzir seus Estudos de antropologia da civilização, que pretendem ser essa teoria. A propósito deles, Anísio Teixeira observou que "embora um texto introdutório, uma iniciação, não é reprodução de saber convencional, mas visão geral, ousada e de longa perspectiva e alcance. Darcy Ribeiro é realmente uma inteligência-fonte e em livros desse tipo é que se sente à vontade. Considero Darcy a inteligência do Terceiro Mundo mais autônoma de que tenho conhecimento. Nunca lhe senti nada da clássica subordinação mental do subdesenvolvido [...]".
Mas Darcy continuou trabalhando sempre no seu texto sobre o Brasil e os brasileiros, explorando tanto as fontes bibliográficas disponíveis como as amplas oportunidades que ele teve de observação direta de todos os tipos de gentes do Brasil. Recentemente, vendo-se em risco de morrer numa UTI, fugiu de lá para viver e também para escrever este seu livro mais sonhado.
Levou consigo, para uma praia de Maricá, as copiosas anotações feitas naqueles anos, que ele compaginou ali. Foram trinta anos e mais quarenta dias.
Trata-se de seu livro mais ambicioso, resultantes daqueles estudos prévios, mas independente deles. É uma tentativa de tornar compreensível, por meio de uma explanação histórico-antropológica, como os brasileiros se vieram fazendo a si mesmos para serem o que hoje somos. Uma nova Roma, lavada em sangue negro e sangue índio, destinada a criar uma esplêndida civilização, mestiça e tropical, mais alegre, porque mais sofrida, e melhor, porque assentada na mais bela província da Terra.
Antropólogo, ensaísta, romancista e político. Darcy Ribeiro nasceu em Montes claros, MG, em 1922. É autor de, entre outros. O processo civilizatório (1968), Os índios e a civilização (1970), Maíra (1976), O mulo (1981), Utopia selvagem (1982) e Migo (1988).
Author(s): Darcy Ribeiro
Edition: 2ª Edição, 3ª Reimpressão
Publisher: Companhia das Letras
Year: 1995
Language: Portuguese
Pages: 480
City: São Paulo