Extremamente bem documentada e escrita, esta biografia de Sergio Vieira de Mello, alto funcionário da ONU morto no Iraque em 2003, não apenas relata a vida apaixonada de um homem fascinante, mas abre espaço para uma discussão vital sobre o futuro das relações internacionais.
Sergio Vieira de Mello foi um dos mais corajosos e carismáticos diplomatas de sua geração. Carioca, viu-se obrigado a viver fora do país a partir dos dezessete anos de idade, quando seu pai, também diplomata, foi punido pelo regime militar brasileiro.
Muito jovem, tornou-se funcionário da Organização das Nações Unidas, com cujos ideais sempre teve grande afinidade. Diferentemente da maioria de seus colegas com formação universitária e aspirações intelectuais, preferia ir ao campo de ação em vez de exercer cargos burocráticos em Nova York.
Em situações especialmente dramáticas - como a de Ruanda, que terminou em uma das mais graves crises humanitárias do século XX, e a do Timor Leste, que culminou em bem-sucedida transição para a independência -, Viera de Mello conseguiu contrabalançar seus princípios juvenis, moldados nas ruas de Paris em maio de 1968, com os da política e das relações internacionais.
Esse fascinante personagem, já descrito como uma mistura de James Bond com Bobby Kennedy, é analisado a fundo nesta biografia de Samantha Power, outra jovem figura da mais alta relevância na teoria e prática da política internacional. Sem abandonar o espírito crítico, Power descreve a vida de Vieira de Mello em detalhes e com inegável simpatia, mostrando como a experiência do diplomata nos massacres da Bósnia e de Ruanda alteraram sua visão de mundo. A partir deles, ele, que achava possível transformar situações difíceis à base quase exclusivamente do poder das ideias, passou a considerar também essencial, no limite, o uso de força militar para impor a paz.
Foi dessa maneira que Vieira de Mello assumiu a difícil posição de chefe da missão da ONU no Iraque após a invasão americana, num momento em que o governo dos Estados Unidos e seus representantes em Bagdá ainda consideravam a ONU mais um empecilho do que um aliado (depois, com o fracasso incontestável das políticas de ocupação, essa atitude mudaria radicalmente).
Vieira de Mello não teve muito tempo para reverter a situação. Em 19 de agosto de 2003, um atentado suicida destruiu parte do quartel-general da ONU em Bagdá, e ele foi uma das suas vítimas fatais. Sua história, no entanto, permanece como ponto fundamental no debate sobre o futuro da ONU e das relações internacionais.
Author(s): Samantha Power
Edition: 1ª
Publisher: Companhia das Letras
Year: 2020
Language: Portuguese
Commentary: Título original Chasing the flame — Sergio Vieira de Mello and the Fight to Save the World
Pages: 1617
City: São Paulo/SP
Tags: Jornalismo - Biografia - Sergio Vieira de Mello
Sumário
Cronologia
Introdução
PARTE I
1. Deslocados
2. “Jamais voltarei a usar a palavra ‘inaceitável’”
3. Sangue azul
4. Botando pra quebrar
5. Caixa-preta
6. A síndrome do carro branco
7. “Sanduíches nos portões”
8. “Sérbio”
9. Em retrospecto
10. Você erra se agir, e erra se não agir
PARTE II
11. “Uma chance à guerra”
12. Independência em ação
13. Vice-rei
14. Ditador benevolente
15. Acúmulo de poder e de culpa
16. “Um Sergio novo”
PARTE III
17. “O medo é mau conselheiro”
18. “Não pergunte quem provocou o incêndio”
19. “Não dá para ajudar as pessoas a distância”
20. Rejeitado
21. 19 de agosto de 2003
22. Post-mortem
Epílogo
Caderno de imagens
Agradecimentos
Notas
Lista de entrevistas
Créditos das fotografias
Sobre a autora
Créditos